segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O amor de Harpia

Um programa do Globo Reporter sobre a Harpia da Amazônia que vi sábado pela manhã na Globo News e a postagem a tarde no Facebook de algumas alunas de resultado do Sisu dizendo que vão fazer faculdades em locais distantes, me fizeram refletir de como a natureza é sábia.


As Harpias escolhem uma das árvores mais altas da mata para construir seu ninho e proteger seu filhote de predadores. Após o nascimento do rebento, enquanto a fêmea fica próxima ao ninho, o macho sai para caçar e trazer alimento para o filhote, que vai perdendo a penugem e adquirindo penas. Logo  começa a explorar galhos mais altos, mas retornando rapidamente a segurança do ninho, que sempre é reparado/higienizado pelos pais que trazem galhos verdes cobrir os restos de carcaça do alimentos que sobram no ninho e assim manter o ambiente livre de parasitas que possam prejudicar a saúde do filhote.


Os meses passam, a adolescente ave já exercita suas asas ainda sem voar efetivamente, mas papai Harpia começa a espaçar mais as refeições que traz, o que deixa o guri agitado, A situação toma um derradeiro rumo quando mamãe Harpia desmonta seu ninho. A jovem Harpia é forçada a voar e acompanhanar seu pai, ainda por um tempo, até aprender a caçar por si própria, só assim estará pronta para alçar voos próprios e sobreviver na floresta.


Os pais de meus alunos, que estão indo estudar em terras distantes, não desmancharam o "ninho" dos filhos, ele sempre estará lá para acolhê-los de volta em suas visitas, mas ao incentivá-los a estudar fora, esses Pais Harpias estão preparando seus filhos para enfrentar a vida de uma maneira mais rápida. Difícilmente  serão os mesmos quando voltarem, pois ao alçarem voos mais distantes, estão tomando uma atitude que os transformarão indubitavelmente. Serão forçados a tomar decisões sozinhos, algumas simples como: o que irá comer, que hora  irá levantar, estudar, namorar, a avaliar o custo/benefício de faltar a uma aula para se curar de uma balada, etc. Outras situações mais sérias como em qual disciplina se matriculará, a cumprir prazos definidos, em que se especializará, a conviver com pessoas muito diferentes, em um local que na maioria das vezes em nada lembrará seu habitat familiar em que foi criado. Decisões erradas, causarão reprovações, custos emocionais, financeiros, mas o aprendizado de vida será maior ainda, pois se aprende muito mais com os erros (que são mais doloridos) do que com os acertos. Não há mais como contar com mamãe/papai falando com professor ou diretor que seu filhinho é bonzinho, que é coisa de adolescente, etc.


O processo no início é dolorido, alguns desistirão nas primeiras pressões/crises de saudade, mas os que continuarem seu voo solo se tornarão pessoas mais independentes, seguras, mais capazes de trabalharem em grupo e quem sabe se tornarem futuros líderes. Não acho que o que escrevo seja uma verdade absoluta, mas acredito que estatisticamente ocorrerá com a maioria que sai do aconchegante ninho familiar.


Espero que meus ex-alunos que optarem por estudar em faculdades próximas, sem a necessidade de abondonarem a segurança de seus ninhos, gradativamente também passem a tomar suas próprias decisões e a arcarem com suas consequências, e que seus pais entendam que eles precisam ganhar autonomia e responsabilidade, para que seus filhos voem mais tranquilos por esta vida quando papai e mamãe harpia já não estiverem por perto para socorrê-los.


Para finalizar uma frase de minha mãe que marcou minha vida quando eu estava saindo  de casa para estudar: "Filho, vá tranquilo, se você estiver bem e feliz, nós estaremos bem e felizes,  pode contar com nosso apoio..."

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