Senhor descansa sobre os escombros de sua casa...
O que me motivou a escrever este texto foi uma entrevista com uma sobrevivente da tragédia do RJ em 2011 (+900 mortos), que perdeu familiares, amigos, casa, tudo, e hoje ainda em meio a escombros de seu bairro, luta e pede ajuda para ter uma vida digna e com perspectiva
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As imagens de dor e desespero da população atingida, o sobrevoo das autoridades, evitando sujar seus pés e mãos no barro com sangue das futuras estatísticas apenas (morreu tanto), as entrevistas com técnicos listando as obras que precisam ser feitas e não foram, ou se parcialmente executadas se perderam com a nova enchente, o escândalo dos desvios de verbas, que liberadas não foram usadas para as finalidades fins,ou ainda o privilégio ao Estado do Ministro do momento responsável por estas verbas, (2011: Geddel - Bahia, 2012 - Bezerra: Pernambuco) e por aí vai a cantilena que se repete ano após ano, ou como se fosse um teatro sazonal em que se mudam alguns atores políticos, mas os protagonistas e ao mesmo tempo figurantes da tragédia, pois são facilmente esquecidos, é sempre a população sofrida
Terremotos, tsumanis, furacões, tornados são algumas das grandes manifestações da natureza em que há dificuldades de previsão de quando ocorrerá e sua intensidade. Países desenvolvidos utilizam de sua capacidade tecnológica e industrial para se preparar para enfrentar tais eventos, buscando minimizar seus prejuízos econômicos e humanos, reduzindo ao máximo o número de vidas que se perdem. Mas quando ocorrem estas tragédias a resposta do Estado é razoavelmente rápida, recuperando e melhorando as estruturas atingidas, facilitando a reconstrução do que se perdeu, para que a vida prossiga naquele lugar e a "tranquilidade" retorne, apesar da dor das vidas perdidas inevitavelmente.
O Brasil é hoje a 6ª economia (PIB) do mundo, mas a falta de qualidade da Educação e de bagagem cultural afetam a solução do problema das enchentes causadas anualmente pelas chuvas de verão, evento natural muito mais facilmente previsível que os citados acima.
Mas porque Educação e Cultura afetam?
Temos profissionais capacitados e tecnologias suficientes para enfrentar este problema. Verba também seria suficiente se houvesse uma melhor definição de prioridades, com aumentos menos aviltantes a apaniguados do poder, construção de circos, perdão digo, estádios monumentais que ficaram vazios após a Copa, corrupção, etc.
Mas o que falta principalmente é INDIGNAÇÃO SUFICIENTE. (quimicamente falando, Energia de Ativação Suficiente)
O que há de sobra é RESIGNAÇÃO da maioria da população perante a repetição da catástrofe. Como se estas tragédias anunciadas não pudessem ser evitadas, porque DEUS assim quis e a natureza é má. Sempre erros antigos (ex.: ocupação inadequada do solo), justificam problemas atuais, que servirão para justificar futuros estado de calamidade pública, permanecendo a leniência do Estado na falta de uma solução que resolva ou atenue tais eventos.
A mídia repercute com indignação a tragédia e seus desdobramentos, mas o espectador, que em um primeiro momento fica indignado, rapidamente se transforma em resignado, pois vê tais imagens e informações repetidas todos os anos, e ainda, quanto mais pobre for a população afetada, mais rapidamente sairá da mídia, e assim cairá no esquecimento, pelo menos até o próximo período de chuvas.
Mas o que tem a ver Educação e Cultura com Indignação sucifiente?
Quanto maior o nível educacional de um povo, mais exigente ele será na resolução de problemas, mais INDIGNADO ficará ao ver suas demandas básicas não atendidas. Mais difícil será ludibriá-los com mentiras, promessas ou meias verdades, que repetidas sempre, tornam no inconsciente popular "verdades de ignorantes", e não estou aqui ofendendo estas pessoas de menor cultura, são frutos da baixa qualidade de ensino que receberam durante sua formação, simplesmente constatando que ignorância mata.
A melhoria da qualidade da Educação e da bagagem cultural formal é uma busca que deve ser permanente, mas deverá levar ainda algumas gerações para alcançarmos um nível de país desenvolvido, na melhor das hipóteses.
Então não há perspectivas para uma solução mais rápida?
Eu sou otimista pois acredito que um grande fator de transformação da sociedade no momento são as novas tecnologias de informação. A internet ajuda a divulgar e repercutir informações podendo alavancar um aumento no nível de indignação das pessoas. A fiscalização mais de perto e atenta dos atos de nossos representantes eleitos, das instituições públicas, faz com que eles fiquem mais expostos a uma cobrança permanente, e talvez assim uma solução concreta para as enchentes venha a ser implementada.
Espero que assim como em 2011 ocorreu a "Primavera Árabe", boa parte pelo acúmulo de indignação desses povos oprimidos, que foram canalizadas através da internet; que possa ocorrer uma "Primavera Brasileira", uma revolução que fará com que nossas calamidades naturais de verão sejam minimizadas e a população afetada mais prontamente atendida. Por enquanto peço a Deus que dê FORÇA E LUZ para essas pessoas afetadas pelas enchentes, e assim possam reconstruir suas vidas e viver com DIGNIDADE E PERSPECTIVA.
Texto originalmente publicado em mzoega.zip.net UOL BLOG em 12/01/2012.
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